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Home food and diplomatic relations

Banquet of the Chevaliers of the Holy Spirit, 1634, print, Abraham Bosse, CC0, Wikimedia Commons

Last week, the newspaper O Globo reported comments made by Lula, the current president of Brazil, in a live broadcast on the You Tube channel “Conversas com o presidente” (Conversations with the president), about the official meals offered by heads of state around the world. Although he made a general criticism, stating that “in a palace, you don’t eat well anywhere in the world”, Lula used as an example the food served during his recent visits to Paris and Rome.

According to Lula, at the lunches offered by Presidents Macron and Matarella, in addition to the small portions (“everything is tiny and restricted”), he said “two palace meals, which are not those things”. In a sort of outburst, Lula also said that when he travels abroad, he misses eating rabada and galinhada, preferring the taste of Brazilian food and larger portions: “Honestly, I can’t get used to it. I need quantity.

I remember one of the statements made by Jô Joares, the renowned Brazilian actor and interviewer, always with his brilliant and irreverent humor, that his favorite dish was the “full plate”. Lula said almost the same thing in a different way. But it’s nothing new, not even for Lula, in his third term as President of the Republic, that on official occasions, more measured portions of food follow a certain ceremonial protocol.

Throughout history, meals offered by heads of state have undeniably contributed to maintaining diplomatic relations between countries. At official lunches and dinners, agreements and negotiations are made that are often more difficult to digest than a few dishes. Food can be considered a diplomatic tool and therefore requires careful planning to avoid embarrassment.

Offering a head of state something that is completely different from their eating habits can be a problem. Likewise, refusing what is offered at an official meal can be considered an offensive gesture.

We could simply say that Lula’s statements were not in good taste, especially if we take into account that they referred to two countries that are completely attached to their cuisines, countries where food is taken very seriously. Lula also put hotel food in the same package and did not spare the Itamaraty’s food from criticism: “it’s not good”.

When he travels, Lula feels the same way most people do when they’re away from home: he misses home cooking. But there are no reports of Lula refusing to eat what he was offered. Although he didn’t enjoy it that much, it seems he wanted more.

Let’s not forget that, in the country’s recent history, the previous president took instant noodles on his official trips. In Japan, after barely touching the food at banquets offered by the emperor and the prime minister, he made no secret of resorting to instant noodles prepared at the hotel.

Fortunately, Brazil’s diplomatic relations have not depended solely on the menus offered at official meals in other countries.

Comida de casa e relações diplomáticas

Na semana passada, o jornal O Globo noticiou comentários feitos por Lula em uma live no canal do You TubeConversas com o presidente, a respeito das refeições oficiais oferecidas por chefes de Estado ao redor do mundo. Embora tenha feito uma crítica generalizada, afirmando que “em palácio, você não come bem em lugar nenhum do mundo”, Lula utilizou como exemplo as comidas servidas em suas visitas recentes a Paris e Roma.

De acordo com Lula, nos almoços oferecidos pelos presidentes Macron e Matarella, além das porções pequenas (“tudo é minúsculo e restrito”), afirmou “duas comidas de palácio, que não é essas coisas”. Em uma espécie de desabafo, Lula ainda relatou que, quando viaja ao exterior, sente falta de comer rabada e galinhada, preferindo também o sabor da comida do Brasil e porções mais fartas: “Sinceramente, não consigo me acostumar com isso. Preciso de quantidade”.

Lembro de uma das declarações de Jô Joares, sempre com seu humor brilhante e irreverente, de que seu prato predileto era o “prato cheio”. Lula afirmou quase a mesma coisa de um modo diverso. Mas não é novidade, e nem mesmo para Lula, em seu terceiro mandato como presidente da República, que em ocasiões oficiais, porções mais comedidas de comida seguem um determinado protocolo cerimonial.

Ao longo da história, refeições oferecidas por chefes de Estado vêm contribuindo inegavelmente para a manutenção das relações diplomáticas entre países. Em almoços e jantares oficiais são feitos acordos e negociações muitas vezes bem mais difíceis de se digerir do que alguns pratos. A comida pode ser considerada um instrumento diplomático,  exigindo, portanto, um planejamento cuidadoso para se evitar constrangimentos. 

Oferecer a um chefe de Estado algo que destoe completamente de seus hábitos alimentares pode significar um problema. Da mesma forma, recusar o que é oferecido em uma refeição oficial pode ser considerado um gesto ofensivo. 

Poderíamos dizer simplesmente que as declarações de Lula não foram de bom tom, sobretudo se levarmos em conta que se referiram a dois países completamente aferrados às suas culinárias, países em que a comida é levada muito a sério. Lula ainda colocou no mesmo pacote as comidas de hotel e também não poupou de suas críticas a comida do Itamaraty: “não está boa”.

Quando viaja, Lula sente o mesmo que grande parte das pessoas quando está fora do país natal: falta da comida de casa. Mas não se tem notícias de que Lula se negou a comer o que lhe foi oferecido. Apesar de não ter apreciado tanto, parece que ele queria mais. 

Não esqueçamos que, na história recente do país, o presidente anterior levava macarrão instantâneo em suas viagens oficiais. No Japão, depois de mal tocar na comida em banquetes oferecidos pelo imperador e pelo primeiro ministro, não fez questão de esconder que recorreu ao macarrão instantâneo preparado no hotel. 

Felizmente, as relações diplomáticas do Brasil não vêm dependendo apenas dos cardápios oferecidos em refeições oficiais em outros países.