Comida · Food

Chocolate may not be as sweet as it seems

Photography by Carla Rocha

On July 7, World Chocolate Day is celebrated. Its scientific name comes from the Greek, Theobroma cacao, and means “food of the gods”. This name makes a lot of sense for a food that, throughout its history, has conquered the most diverse palates around the world. 

The cocoa plant is believed to have originated in the Amazon some 4,000 years ago. In Central and South America, cocoa beans were considered valuable as food and also as a currency and religious symbol. 

Before the Spanish invasion of Mexico and central America in the 16th century, chocolate was a drink restricted to Aztec emperors and warriors. When it was brought to Europe by the Spanish, cocoa followed its trajectory as a food consumed by the elites and began to be used in different ways in different European countries. The Spanish nobility considered him a powerful aphrodisiac. In the words of historian Linda Civitello, it was the “Viagra of the sixteenth century”.  

For most of its history, chocolate was consumed in drink form. The solid and sweet form we know only emerged in the 19th century, resulting from industrialization. In 1828, the Dutchman Van Houten, from the processes of degreasing and alkalizing cocoa, enabled the large-scale manufacture of chocolate, both in powder and solid form, leading to the expansion of its manufacture in other European countries and the popularization of its consumption.

As chocolate became popular, its quality began to decline, especially due to adulterations. Cocoa butter, a central raw material for its manufacture, has become increasingly valued in the pharmaceutical and cosmetic industry.   Because of this, it was replaced in the manufacture of chocolates by other cheaper and lower quality vegetable fats.

In addition to adulteration, the popularization of chocolate has also set other problems, such as accelerated deforestation, especially in African countries, and the use of child labor in slavery in the cocoa harvest. 

Slave labour on cocoa plantations is not exactly new. Since the Spanish invasion of Central America and Mexico, local communities have been forced into this type of work. In 19th century Brazil, cocoa cultivation already involved slave labor. When cocoa seedlings were brought to the African continent of South America, around 1800, this reality gained other dimensions. 

The documentary The Dark Side of Chocolate (2010) showed the trafficking and forced labor of children in countries of the African continent, but this is a reality that also affects other countries including Brazil. The exploitation of the work of children and adolescents in slavery in the cocoa production chain is a reality, especially in Pará and Bahia, the country’s main cocoa producing states. 

Chocolate can still be considered a food of the gods, but its enormous ecological and social costs force us to see that its taste may not be as sweet as it seems.

O Chocolate pode não ser tão doce como parece

No dia sete de julho comemora-se o dia mundial do chocolate. Seu nome científico vem do grego, Theobroma cacao, e significa “alimento dos deuses”. Esse nome faz muito sentido para um alimento que, ao longo da sua história, conquistou os mais diversos paladares ao redor do mundo. 

Acredita-se que a planta do cacau tenha se originado na Amazônia há cerca de 4.000 anos. Nas Américas Central e do Sul, as sementes de cacau eram consideradas valiosas como alimento e também como moeda e símbolo religioso. 

Antes da invasão espanhola ao Mexico e América central, no século 16, o chocolate era uma bebida restrita a imperadores e guerreiros astecas. Quando foi levado para a Europa pelos espanhóis, o cacau seguiu sua trajetória como alimento consumido pelas elites e passou a ser utilizado de formas diversas em diferentes países europeus. A nobreza espanhola o considerava um afrodisíaco poderoso. Nas palavras da historiadora Linda Civitello, era o “Viagra do século XVI”.  

Na maior parte da sua história, o chocolate era consumido em forma de bebida. A forma sólida e adocicada que conhecemos somente surgiu no século 19, resultante da industrialização. Em 1828, o holandês Van Houten, a partir dos processos de desengorduramento e alcalinização do cacau, possibilitou a fabricação em larga escala de chocolate, tanto em pó quanto em forma sólida, levando à expansão de sua fabricação em outros países europeus e à popularização do seu consumo. 

À medida que o chocolate se popularizou, sua qualidade começou a declinar, sobretudo em razão de adulterações. A manteiga de cacau, matéria prima central para a sua confecção, passou a ser cada vez mais valorizada na indústria farmacêutica e cosmética.  Em razão disso, foi substituída na fabricação de chocolates por outras gorduras vegetais mais baratas e de menor qualidade.

Além da adulteração, a popularização do chocolate também configurou outras problemáticas, como o desmatamento acelerado, especialmente em países africanos,  e a utilização do trabalho infantil em regime de escravidão na colheita do cacau. 

O trabalho em regime de escravidão nas plantações de cacau não é algo propriamente novo. Desde a invasão dos espanhóis às Américas Central e México, comunidades locais foram forçadas a esse tipo de trabalho. No Brasil do século 19, o cultivo do cacau já envolvia o trabalho escravo. Quando mudas de cacau foram levadas para o continente africano da América do Sul, por volta de 1800, essa realidade ganhou outras dimensões. 

O documentário The Dark Side of Chocolate (2010) mostrou o tráfico e o trabalho forçado de crianças em países do continente africano, mas essa é uma realidade que também atinge outros países incluindo o Brasil. A exploração do trabalho de crianças e adolescentes em regime de escravidão na cadeia produtiva do cacau é uma realidade,sobretudo no Pará e na Bahia, principais estados produtores de cacau do país. 

O chocolate pode ainda ser considerado um alimento dos deuses, mas seus enormes custos ecológicos e sociais nos obrigam a enxergar que seu sabor pode não ser tão doce como parece.